quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ondjaki


Foto: Angola

“amarelas são as tardes”

são amarelas as tardes quentes de ti

teu corpo em espera ligeira nem pluma nem ave cântico de adormecimento oblíqua nuvem num céu de breve quentura e o sal também vem até onde a lava te celebrar e o amarelo da tarde restar tom de manteiga com açúcar derretido na pele no chão da minha boca espasmo delicioso amor intranquilo beijo sem lábios na ternura de palavras faladas amarelas são as tardes em que o meu corpo maduro te descobre transparente maracujá quente

quente de mim


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“estes dias”

queimam-me
os dias
dos outros.
rego-me, reinvento o
mundo.
falho.
na minha janela
de ferrugem tórrida
os passarinhos
ainda
fazem amor.

Ondjaki, escritor angolano

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